Canto sem Palavras - Melodia para Violeta e Orquestra
O único manuscrito que se conhece desta obra está depositado no antigo Arquivo Musical da Emissora Nacional, sob a cota 7422. A sua cedência para interpretação e publicação deve-se à generosidade da RTP - Antena 2, na pessoa do seu director João Almeida. O manuscrito parece ser todo ele autógrafo, incluindo as partes cavas extraídas, e está datado de Agosto de 1942. A obra apresenta-se em duas versões: para violeta e orquestra, e para violeta e piano. Esta última não pretende ser uma mera redução para efeitos de ensaio, mas sim uma instrumentação legítima em si mesma. A prová-lo está o registo de estreia da obra, feita em vida do compositor, certamente com acompanhamento próximo deste - a intérprete que a estreou era, junto com o compositor, violetista da Orquestra Sinfónica Nacional nos anos 40 -, e protagonizada por Maria de Luz Antunes (violeta) e Regina Cascais (piano). Este registo, colhido no Arquivo Musical Português (Leiria 1944, X), indica que a primeira audição teve lugar no ano de 1943, na Emissora Nacional.
O aparecimento deste manuscrito, a sua edição e a sua estreia moderna revestem-se de especial importância, devido a um facto de relevo: até à data, a mais antiga obra portuguesa completa para violeta e orquestra de que dispúnhamos era a Khroma de Cláudio Carneyro, cuja primeira versão com orquestra datava de 1955. O Canto sem Palavras, de Alberto João Fernandes, antecipa a data da primeira obra completa para violeta de piano de que temos integral conhecimento para 1942.
Como texto introdutório, o compositor escreveu as seguintes palavras, provavelmente de própria autoria:
À hora do crepúsculo
- a hora de luz mais sentimental -
quando os olhos a vêem, a alma sente aquilo
que as palavras não podem descrever…
Nota à presente edição
Sendo uma obra de pequena dimensão, e tendo em conta que ambas as versões são legítimas em si mesmas - optou-se por incluir no volume a partitura de orquestra, a versão para viola de arco e piano e a parte cava de viola solo. As partes cavas de orquestra ficam disponíveis mediante solicitação à editora. Na partitura geral de orquestra, os critérios editoriais foram claros: exceptuando casos de evidente erro de escrita, mantiveram-se estritamente todas as indicações do compositor - agógica, articulações, dinâmicas, arcos, entre outras. Neste caso, a opção editorial foi sempre a de não forçar uma coerência, quando ela não existisse, evitando assim alterar o registo escrito de Fernandes. Tendo em conta que a partitura geral constitui já a reprodução fiel do manuscrito, na parte cava de viola solo e na versão para viola de arco e piano optou-se por incluir sugestões de interpretação, nomeadamente dedilhações, arcadas e articulações alternativas. Em resumo, tudo o que está presente na partitura de orquestra corresponde exactamente ao manuscrito original, e todas as alterações em relação a esta que se possam encontrar na parte cava de viola solo são de responsabilidade editorial.
No que diz respeito à dimensão da orquestra, a partitura contém uma indicação manuscrita com o número de partes extraídas, sugerindo que a versão para violeta e orquestra também terá sido estreada, ou, pelo menos, preparada, e onde se pode ler: “Primeiro Violino - 5 papéis; Segundo Violino - 5 papéis; Alto - 3 papéis; Cello - 3 papéis; C. Baixo - 3 papéis; Flauta - 2 papéis; Oboé - 1 papel; Clarinete - 2 papéis; Fagote - 1 papel; Trompa - 2 papéis; Harpa - 1 papel; Violeta Solo - 1 papel”.
João Pedro Delgado