O Cerejal, op. 60
(piano, violino, clarinete, acordeão, trompa e fagote)
1 - Abertura do Baile
2 - Canto de Nostalgia
3 - O princípio da inquietação
4 - Dança de raiva e amargura
5 - Números de magia
6 - Desespero final
“O Cerejal”, é uma suite de concerto extraída à música de cena para a peça do mesmo nome de Anton Tchekov, encenada por Achim Bening no Burgtheater de Viena, em 1982. Ao longo de todo o terceiro acto da peça, que se passa na Rússia do séc. XIX, há uma orquestra de judeus que actua durante um baile - e que, na maioria das encenações, se mostra estranhamente indiferente ao drama que se vai adensando entre as personagens. Considerei que uma tal atitude da orquestra não era lógica e propus ao encenador - o qual aceitou de imediato a proposta - que os executantes reagissem ao ambiente que os rodeava, de tal forma que também a sua música acabasse por se descontrolar no meio da atmosfera de angústia e de conflito que caracteriza o enredo dramático. Mesmo quando uns números de magia se propõem distrair os convivas, a tensão agrava-se a cada instante e leva instrumentistas a perderem-se na partitura , a enganar-se nas entradas ou a trocar asharmonias, num desnorteamento correspondente à inquietação que reina na sala. A orquestra tenta por várias vezes reorganizar-se, repetindo melodias ou pedaços de passagens em que os vários músicos se possam eventualmente reencontrar, mas a música torna-se cada vez mais desconexa e descontrolada, por via do desespero e da agitação que a acção teatral deixa transparecer.