Colecção Lubra
Ao longo do séc. XX a relação entre compositor e intérprete foi enriquecedora do repertório solo e de música de câmara creio que hoje continua a sê-lo. As circunstâncias proporcionam este encontro e percorre-se um caminho até ao momento final da criação e interpretação, para o qual as sinergias explícitas na troca de conhecimentos, na tensão entre as ideias e a sua exequibilidade, no extrapolar de limites e na descoberta de caminhos são fundamentais e estimulantes.
Neste contacto com compositores e nas experiências de concerto que tive integrando grupos de câmara reduzidos e ensembles de maiores dimensões, tornou-se claro para mim que nestes contextos, existem ainda muitas vertentes a explorar, impondo-se a reflexão sobre quais as possibilidades da guitarra; a extrema sensibilidade da sua presença e qualidades sonoras são afectadas pela qualidade da atenção dada às características tão diversas dos instrumentos em interacção o timbre, a amplitude dinâmica, a velocidade da emissão sonora, o jogo de registros/tecituras afectam a própria forma como ouvimos ou fazemos ouvir e como sentimos o instrumento.
Através desta colecção são disponibilizadas aos intérpretes várias obras onde o conhecimento de escrita idiomática para o (s) instrumento (s) se cruza e funde com um discurso musical livre de limitações do foro da execução.
Enquanto músico esta é uma linguagem que me atrai, pensá-la, senti-la e interpretá-la pela simbiose constante entre riqueza e desenvolvimento de ideias e o desafio que é a sua realização exigente em meios e recursos que a guitarra possui de forma abundante e que são explorados pelo compositor de forma sensível e inspirada, resultando em obras de concerto plenas de comunicação e emoção.
Júlio Guerreiro
Primavera de 2010
Sobre as “Texturas” para guitarra solo
“Texturas” são o título genérico que tenho dado ao estilo de escrita onde a proposta é informal - a superfície sonora e o governo de um ambiente emocional, quase exclusivo, são os construtores da obra. Os subtítulos referenciam um paradigma expressivo, o sentimento e as sensações dominantes que me instigam àquela forma de expressão.
“Textura das cores sombrias”: fluxo áspero de uma granulação que transforma-se de formas variadas e extremas em fusão e/ou choque, absorções, assaltos inesperados: tudo ocorre num espaço de luzes carregadas, ameaçadoras – cordas graves da guitarra: pequenos poços de cor e densidade sonora.
“Textura dos fragmentos, Serena”: uma pequena paz trazida nos pedacinhos de uma melodia que muda, e muda, e muda…sempre a mesma, sobre um fundo impassível. Contemplação. Tecido quase-paisagem.
“Textura das linhas angustiadas”: melodia/fio/nervos/pontos/contrapontos: polifonia/guitarra/espaço.
Estas obras foram escritas a pedido de, sonhadas com, e dedicadas ao Júlio Guerreiro – guitarrista excelso, Músico.
Eli Camargo Jr.
Post Opus, Inverno de 2009
o os construtores da obra. Os subtlio Guerreiro