Revisão/Edited by/Révision
Inês Andrade
Terminadas em 1914, as Três Mazurcas pertencem ao grupo das primeiras obras que António Fragoso completou. A linguagem musical destas primeiras peças é muito influenciada pela música de Chopin e Schumann e mostra quão bem Fragoso captou as características melódicas e harmónicas do repertório romântico que, naquela época, estava a estudar enquanto pianista. No entanto, certas características presentes nas Mazurkas, como o evitar de cadências conclusivas, o uso de acordes de sétima da sensível e de sexta agregada e o emprego de modulações e progressões por terceiras, são recorrentes em toda a obra de Fragoso.
No seu espólio há um manuscrito a lápis que contém apenas as duas primeiras Mazurkas. Este manuscrito não inclui quaisquer indicações expressivas, seja de andamento, dinâmica, articulação ou agógica. Também não contém os oito últimos compassos da primeira Mazurka. O único manuscrito completo com as três Mazurkas, escrito a tinta, está assinado e datado "Pocariça, 7 de Janeiro de 1914". Este manuscrito a tinta é a única fonte existente para a terceira Mazurka e a única versão completa das duas primeiras. Neste manuscrito, as Três Mazurcas foram catalogadas como opus 2. No entanto, Fragoso repetiu este número de opus para o seu Trio em dó sustenido menor para violino, violoncelo e piano, escrito em 1916. Por esta razão, esta edição não inclui um número de opus para as Mazurkas, que nunca tinham sido publicadas.
Comentário Crítico
Estas notas explicam as opções feitas quando existem discrepâncias entre as duas fontes: o manuscrito a lápis e o manuscrito a tinta.
Mazurca I
O manuscrito a tinta propõe uma indicação de andamento e caráter para a primeira Mazurka: “Vivo mas com muita graça e sentimento”. Este manuscrito também inclui indicações de pedal que foram reproduzidas nesta edição.
Compassos 14, 16 e 25: no manuscrito a lápis, o ritmo da mão direita é de duas semínimas com ponto. Esta edição segue o manuscrito a tinta, que tem uma semínima seguida de uma mínima.
Compasso 32: a última nota das apogiaturas da mão direita é um dó5 no manuscrito a lápis, e um si4 no manuscrito a tinta. Esta edição apresenta um dó5 porque este segue o mesmo padrão melódico do compasso 36.
Compasso 44: o manuscrito a tinta tem um sinal de repetição no final deste compasso, indicando que os compassos 30 a 44 devem ser repetidos. Esta repetição é claramente uma interpretação equívoca do sinal Da Capo escrito no manuscrito a lápis - o manuscrito a lápis não inclui a seção A' (compassos 45 a 73) e foi usado um sinal Da Capo para indicar que a parte A deve ser repetida.
Mazurca II
O manuscrito a tinta propõe uma indicação de caráter para a segunda Mazurka: "Com sentimento doloroso".
Compassos 2, 4, 6, 8, 11, 13, 15, 17, 42, 44, 46, 48, 51, 53, 55 e 57: há algumas diferenças entre os dois manuscritos no que diz respeito à acentuação, ou não, da oitava do terceiro tempo da mão esquerda ao longo das várias repetições do mesmo material musical. No entanto, todas elas são acentuadas a certo ponto. Nesse sentido, esta edição inclui um acento em todas estas oitavas.
Compassos 36, 37, 38 e 39: o manuscrito a tinta não tem um acento nas oitavas da mão esquerda no terceiro tempo dos compassos 36 e 38, e no primeiro tempo dos compassos 37 e 39. Estes acentos existem no manuscrito a lápis e foram incluídos nesta edição.