Dom João e a Máscara, op. 80
(flauta e guitarra)
Esta obra foi inicialmente concebida para música de cena da peça teatral do mesmo nome de António Patrício. Nessa peça do dramaturgo português, a figura Don Juan está longe de se apresentar como a de um grande e insaciável conquistador, mas surge-nos, muito pelo contrário, como um homem atormentado por múltiplas angústias e complexos, cuja entrega à causa de um erotismo quase permanente mascara afinal a incapacidade de desenvolver uma relação autêntica com qualquer mulher. Em suma, ele muda constantemente de mulher porque não é capaz de se ligar a nenhuma - ou de conseguir que alguma se ligue verdadeiramente a ele... Durante alguns anos, procurei expressar-me musicalmente através desse instrumento de admirável sonoridade que é a guitarra, mas debati-me sempre com a dificuldade em dominar os seus problemas técnicos, que vêm pouco ou nada explicados nos tratados de instrumentação ou orquestração. Cheguei a pensar que seria necessário aprender eu próprio a tocar guitarra, hipótese cuja eficácia me parecia assim como assim duvidosa, pois pouco adianta, para se escrever bem para um instrumento aprender a tocá-lo de forma mediocre... E assim, posso efectivamente dizer que acabei por aprender a escrever para guitarra depois de ouvir muita bossa nova... Aí, sim, comecei a “ganhar-lhe o jeito”, a entender melhor o que resultava e o que não era de todo em todo exequível. Além disso, Júlio Guerreiro é sem dúvida um notabilíssimo músico e executante que me ajudou a verificar que, afinal, muito daquilo que me era dantes apresentado como impraticável precisava apenas de um grande guitarrista e, naturalmente, de muitas horas de trabalho...