As Quadras para voz e piano de Elvira de Freitas reúnem um conjunto de quatro breves canções compostas entre 13 de Abril e 16 de Maio de 1950 sobre versos de Silva Tavares (Quadras n.ºs. 1, 2 e 4) e Alberto Rebello D’Almeida (Quadra n.º 3). Marcadas pelo carácter contrastante resultante da sobreposição de diferentes articulações, relação contrapontística entre a voz e o piano, e emprego de diferentes métricas e acentuações, nas Quadras transparece uma estética neo-tonal de composição – também evidente em obras como a Sonata e o Tema e Variações para piano (ambas de 1944) de Frederico de Freitas (1902-80), pai da compositora.
A evidência do gosto de Elvira de Freitas pela escrita de canções revela-se pela representatividade destas no contexto da sua produção artística. Apesar do hiato entre 1959 e 1979 – quando a compositora se dedicou à harmonização de canções para a Orquestra Ligeira da Emissora Nacional (até 1967), produção de repertório didáctico, e composição de fados (década de 1970) –, este género de composição esteve sempre presente antes e depois deste período: na fase anterior a 1959 compõe Enamorados (1945), Em Louvor de Santa Filomena (1946), Quadras (1950), Quatro Canções Para Ela (1950), Cantiga Sagrada de Folia (1950), Amizade (1951) e Insectos (1959), e, a partir de 1979, compõe Onze Poemas de Garcia Lorca (1979), Andaluzia (1979), Viesses tu poesia (1982), Lírio de S. Damião (1982), Avé-Maria do Natal (1998) e Estou sentado à beira mar (1999).
Além destes títulos, Elvira de Freitas ainda compôs o Ciclo Natalício, com data indefinida. O contexto da composição das Quadras está directamente relacionado com a composição das Quatro Canções para Ela (escritas entre 16 de Maio e 25 de Setembro de 1950), já que a data de conclusão da primeira canção deste ciclo coincide com a data de finalização das Quadras. Ao que tudo indica, foram concebidos simultaneamente, com a intenção de constituírem um único ciclo. A prova desta intenção consta dos primeiros autógrafos da compositora para os dois ciclos: no autógrafo a lápis das Quatro Canções Para Ela a 3.ª canção aparece como “Quadra IV” e a 2.ª canção aparece como “Quadra VII”. Ao mesmo tempo, no documento autógrafo da Quadra n.º 1, a primeira versão da Canção Para Ela n.º 4 aparece com a indicação “V Quadra”. Além disso, em folha anexa ao primeiro autógrafo a lápis da Quadra nº. 4, a compositora escreve:
I O que é gostar?
II A nossa vida singela
III Se o espêlho reproduzisse...
IV É cantando que se diz
V Eu gosto quando te falo
VI Quando a mais pequena ideia
VII Dá-me os teus olhos profundos
Tal designação envolve títulos que depois passaram a integrar um ou outro ciclo, compostos imediatamente após a conclusão da Sonata para piano, escrita entre Janeiro e Abril de 1950, e dedicada ao seu professor, o compositor Fernando Lopes-Graça (1906-94). Dessa forma, ao lado da Sonata e das Quatro Canções Para Ela, as Quadras distinguem-se no conjunto de obras de Elvira de Freitas por estarem inseridas no grupo de composições referenciais de 1950, que consolidam o início da sua carreira como compositora.