Rabbia, furor, dispetto
Sinfonie & Arie
Jerónimo Francisco de Lima (1741-1822)
Monika Mauch
Concentus Peninsulae, Vasco Negreiros
CD pela editora Paraty (Paraty 715134). Paris, 2015
Nota de Imprensa
O poder estético musical do ruído foi uma descoberta dos movimentos de vanguarda do século XX.
Será?
Até que ponto as máquinas teatrais do século XVIII, tão importantes na ópera de então, não faziam parte essencial da representação musical de tempestades?
O Concentus Peninsulae, sob direcção de Vasco Negreiros, resolveu tirar a limpo esta dúvida, contando com a maquinista Rosana Orsini, investigadora de cenografia setecentista, e com as réplicas da firma Antiqua Escena, de Alcalá de Henares, terra de Cervantes.
Na última faixa do CD Rabbia, furor, dispetto - Sinfonie & Arie, reunindo obras do português Jerónimo Francisco de Lima (1741-1822) – lançado em Portugal no dia 1 de Outubro (Dia da Música), na Casa Museu Anastácio Gonçalves – ouve-se uma tremenda tempestade marítima em que a orquestra é acompanhada por uma máquina que produz som de ondas, duas de vento (uma para a pequena brisa e outra para os uivos mais assustadores) e três distintas para os trovões (do mais próximo ao mais distante). O resultado é fascinante! A música de Jerónimo Francisco de Lima ganha uma dimensão dramática que na versão limpa não conhecera.
Para além desta novidade no mercado discográfico da Música Antiga – pois nunca antes réplicas de máquinas de tempestade do século XVIII haviam sido empregues com esta intensidade em edições discográficas – o CD conta com a maravilhosa voz de Monika Mauch, uma referência de qualidade que se confirma na fluidez e bom gosto das suas candenze e na subtileza da sua ornamentação.
O Concentus Peninsulae reúne alguns dos melhores instrumentistas portugueses e espanhois, no campo da Música Antiga, pelo que contou, para esta gravação, com o apoio da Embaixada de Espanha em Portugal.
Vasco Negreiros é um maestro de sólida formação na sua área, tendo feito paralelamente um grande investimento no campo da investigação musicológica, nomeadamente, também no que toca a toda a produção operática de Jerónimo Francisco de Lima.
Que esta tempestade acorde o mundo para as qualidades deste compositor português, que merece bem mais atenção do que aquela que tem recebido. Ainda há muito a explorar no campo da ópera setencentista composta em Portugal; ao Concentus Peninsulae não faltam planos futuros!
Com este CD podemos disfrutar, pela primeira vez, da intensidade emocional de um compositor requintado e detalhista. É uma aposta a seguir atentamente!