Encomenda do Prémio Jovens Músicos 2007 / Antena 2 da Rádio e Televisão Portuguesa
Março de 2007 “Solo II”- a Torga - Para: Violino Solo
Duração Aproximada: 2-3 minutos
Notas de Execução
Carácter Geral:
A peça em si é maleável no sentido de andamento estricto, onde o gesto é o elemento mais importante do discurso. Portanto, ao longo da peça, o andamento inicial poderá ser alargado ou acelerado (pouco!) em função do discurso musical e da intuição do próprio executante. Deverá ter em conta contudo, as dinâmicas e ritmos escritos, como linhas orientadoras. De modo algum, o andamento poderá subjugar o ritmo e dinâmicas indicadas.
Indicações Específicas:
+ - este símbolo determina o pizzicato com a mão esquerda, actualmente já vulgar na sua nomenclatura original.
Sul ponticello (s.p.) – efeito de som e timbre, determinado pelo posicionamento do arco perto (s.p.) do cavalete, podendo voltar à forma normal: ordinary (ord.)
Sul G – sugere ou determina o tocar da passagem em questão, na corda sol. Contudo, não é um parâmetro obrigatório, mas preferencial.
Au Talon – indicação universal de execução ao talão.
Alternate bowings – como a própria denominação indica, refere a permissão de alternar os arcos (para cima e para baixo) o quanto for necessário para o executante, na dita passagem.
“Bater no tampo” - na parte final da peça sob esta indicação, pretende-se que o executante percute com a mão esquerda no tampo do violino, num desfazer do discurso em sons de altura indefinida...até ao silêncio.
Prefácio
Esta pequena peça para Violino teve diversas fontes de reflexão, que traçaram definitivamente uma ideia – um mundo – de como esta música poderia soar. O seu material sonoro está inquestionavelmente ligado à primeira peça deste ciclo: “Solo I” também para violino solo, que propõe acima tudo uma exploração das sonoridades de cada corda do violino, do seu timbre, peso e conotações fonéticas.
No caso desta peça, a fonte maior de influência conceptual é extra-musical: a literatura. E um género em particular – a poesia – cuja pequena forma e mensagem balizante, se identificam logo a uma pequena peça musical, para instrumento solo. É desta feita processado o discurso musical, seguindo o curso das palavras.Neste contexto, o poema escolhido foi de Miguel Torga, que como poucos soube transparecer de forma tão directa e humilde o que nós no fundo, somos e sempre seremos:
Biografia
(em Diário IV)
Temos todos um rio na lembrança
E alguns é um rio inteiro a sua vida.
Um rio que não seca e não descansa
E é uma força perdida
Entre montanhas de desconfiança.
Linha do Douro, 13 de Março de 1949
E com este testemunho, sob a festividade dos 100 anos do nascimento de Miguel Torga (1907 - 2007), dedico a este grande poetapoeta esta peça, propondo aos que virão a executar esta música, que tenham em mente a biografia que todos nós construímos, quer sob forma de actos, palavras ou sons.A construção do EU e do TU. Do NÓS.
Nuno Jacinto
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