Prémio Internacional de Composição
Fernando Lopes-Graça, 2011
A obra escrita por Hugo Ribeiro, merecedora do 2º prémio do Concurso Internacional de Composição Lopes Graça 2011, permite, pela sua notável adaptação e domínio das características mecânicas do cravo, tornar quase irrelevante a impossibilidade real do instrumento operar dinâmicas, pela exploração da rica paleta sonora de ressonâncias que dele se pode extrair.
De facto, Et Sequentes prima pela recorrente utilização dos registos mais graves e harmonicamente cheios do instrumento, aos quais chega, por norma, gradativamente e de uma forma ritmicamente variada, alargando o leque de ressonâncias pela insistência de padrões sobrepostos nos dois teclados.
Contrastando com o primeiro e terceiro andamentos, encontramos um segundo movimento ironicamente inspirado no “Continuum” de Ligeti, onde a noção de tempo assume uma função meramente indicativa de um discurso que se desenvolve freneticamente em ornamentos sucessivos.
O “toque de novidade” é dado no fim da obra, num último andamento composto por clusters que se estendem, no limite da mão do executante, até à região mais aguda do instrumento, pressupondo um gesto de loucura patológica (termo este usado pelo próprio compositor), de uma sonoridade quase sem sentido que opera sobre uma linha melódica indiferentemente, manifestada em ornamentos.
Julgamos encontrar nesta obra do jovem compositor Hugo Ribeiro uma espécie de síntese amadurecida de um tipo de literatura para cravo cujo desenvolvimento se evidenciou na transição do séc. XX para o actual XXI.
Jenny Silvestre