Prefácio
Este Intermezzo, obra de juventude composta em 1933, tem uma importância singular na obra de Jorge Croner de Vasconcellos. Pouco tempo depois de ter iniciado os seus estudos de piano em 1923, o jovem músico começou a interessar-se pela composição. Inicialmente, escreveu algumas obras esporadicamente, mas com mais regularidade a partir de 1927 – ano da composição das Três Redondilhas de Camões – ao mesmo tempo que começou a dar os seus primeiros recitais de piano. Paralelamente aos seus estudo, desenvolveu uma actividade cada vez mais destacada pela imprensa e encorajada pelos seus pares, tais como Luiz de Freitas Branco, Francine Benoît e Ivo Cruz. Foi também em 1927 que ele começou a frequentar o meio dos jovens artistas e músicos que se reuniam em casa de Vergília do Canto Brandão, estimulado pelas conversas sobre artes e pelo companheirismo que esse lugar inspirava. Graças a esses encontros, estabeleceu relações duradouras. A partir de 1929, apresentou-se várias vezes em concertos organizados em Lisboa (Conservatório Nacional, Academia dos Amadores de Música, Sociedade Nacional de Música de Câmara…). O concerto de 3 de maio de 1930 chamou a atenção do poeta Américo Durão o qual escreveu um artigo que se tornou histórico – intitulado O grupo dos Quatro e publicado pela revista Illustração – sobre os quatro jovens compositores do momento: Jorge Croner de Vasconcellos, Armando José Fernandes, Pedro do Prado e Fernando Lopes-Graça. No plano pianístico, destacou-se nomeadamente com a interpretação do Concerto para piano e o Carnaval, op. 9 de Schumann, Children’s Croner de Debussy e acompanhando por diversas vezes a célebre cantora Arminda Correia. Dedicou-se também à divulgação de obras de compositores portugueses como comprova o concerto de 10 de abril de 1933 organizado pelo Comité do Congresso de Médicos Anatomistas (no qual participa também Francisco de Lacerda ao piano) onde interpreta António Fragoso, Luiz Costa, Luiz de Freitas Branco, Armando José Fernandes. Em 1933, Jorge Croner de Vasconcellos obteve uma bolsa da Junta de Educação Nacional para estudar na École Normale de Musique de Paris. Desde 1929, ele dedicava-se menos à composição e mais aos seus recitais de piano. O seu Intermezzo é provavelmente a última peça que ele compôs antes da sua partida para a capital francesa e aquela que determina o fim do período de jovem estudante lisboeta. Ela é também um testemunho da grande amizade que ele tinha com Armando José Fernandes a quem ele a dedicou. A 1 de março de 1934, os dois companheiros partiram juntos para Paris para estudarem composição com Nadia Boulanger e Paul Dukas, arte vocal com Charles Panzéra e interpretação com Alfred Cortot. Os anos 1934 a 1937 marcaram profundamente Jorge Croner de Vasconcellos.
O trabalho desta edição foi realizado a partir de uma cópia manuscrita de Armando José Fernandes que nos foi amavelmente cedida pela Elisa Lamas, colega e amiga do compositor.
Bruno Belthoise