die Forelle, oder ein Traum nach Schubert
Esta peça, como muitas outras obras minhas mais recentes, é uma “música sobre a música”, uma peça que reutiliza a canção de Schubert para a submeter às minhas próprias variações. Usei assim o material da canção Die Forelle tal como Schubert o fez no 4º andamento do seu quinteto homónimo. São porém variações distantes do sentido mais comum da palavra: a atmosfera da obra é mais próxima de um sonho, durante o qual passam, de maneira (só) aparentemente desordenada, vários estilos e épocas, todos eles rodeando a canção de Schubert de alguma forma. Um sonho também premonitório da futura música vienense (que desembocará na atonalidade e no dodecafonismo expressionistas), toda ela devedora do pequeno e míope Franz, como é, por exemplo, a música de Mahler (De quem cito uma melodia da sua última sinfonia completada, a 9ª). Outros ecos (como o do titã Beethoven, cujo peso genial atormentou o pobre e rejeitado Franz... ou o de Chostakovitch, este perseguido pela sombra de Mahler) mais longínquos alguns, imediatamente identificáveis outros, passam por este sonho que, como todos os sonhos, não tem uma direcção definida, nem uma lógica aparente. Mas, tal falta de lógica só o é para o consciente, pois o subconsciente continua a encontrar pistas para a sua visão distorcida da realidade. Porém, quem sabe não será essa visão distorcida o mais próximo que conseguimos chegar da verdadeira realidade?