O Magnificat – um retracto, por assim dizer, da sua alma – é inteiramente tecido com fios da Sagrada Escritura, com fios tirados da palavra de Deus. (Bento XVI, 2005)
Estas palavras de Joseph Ratzinger – à época, Sumo Pontífice Papa Bento XVI – pertencentes à sua primeira encíclica Deus Caritas Est, elucidam-nos para a importância dos elementos que revestem o texto Magnificat.
A ilustração do Magnificat no cantochão, a renascença de compositores como Palestrina, Frei Manuel Cardoso, Tomás Luís de Victória, entre tantos outros, o majestoso e expoente Magnificat de J.S. Bach, assim como a tradução musical dos compositores contemporâneos, são exemplos que comprovam a viagem que este cântico de Maria realizou até aos dias de hoje, atravessando grande parte do percurso da História da Música.
Este tesouro literário mereceu naturalmente a dedicação composicional de D. Pedro de Cristo, crúzio de Santa Cruz de Coimbra, que ao longo da sua vida se dedicou ao enobrecimento do espólio musical sacro português.
No ano em que se faz memória dos 400 anos da sua morte, simboliza-se esta efeméride com a criação de um projecto intitulado “Da herança à criação”, que agora se vê cumprido com a edição e publicação deste conjunto de oito Magnificat, desenvolvidos a partir dos oito tons salmódicos gregorianos.
No que concerne à herança, apresenta-se a transcrição de quatro Magnificat do compositor renascentista, estabelecendo um diálogo harmonioso com a criação de quatro Magnificat contemporâneos da autoria de Eugénio Amorim, Fernando C. Lapa, João Santos e Paulo Banaco, concebidos exclusivamente e generosamente para este projecto.
Fazendo jus à herança deixada por Pedro de Cristo e à doação das obras de tais célebres compositores contemporâneos, procuremos por meio desta obra enriquecer e dignificar a prática da Música Sacra Portuguesa.
Nuno Miguel de Almeida
Porto, Setembro de 2018