Composta por José Vianna da Motta aos treze anos de idade, a Elegia, op. 45, em dó sustenido menor, pertence ao conjunto de obras de infância escritas entre 1873 e 1883. Vianna da Motta intitulou esta peça Nocturno-Elegia, op. 45 e indicou como andamento principal Andante mosso, quasi Adagio antes lhe atribuir o título Elegia, op. 45 e o andamento Andante non molto. Estas modificações tiveram consequências significativas sobre a estética musical da peça (inicialmente pensada como um Nocturne) e sobre a significação da escrita pianística (inicialmente pensada para um andamento Andante mosso, quasi Adagio). Esta transformação poderá estar relacionada com o facto de Vianna da Motta ter rasurado a dedicatória ao seu professor de piano Joaquim Francisco de Azevedo Madeira para escrever “à morte da Ex.ma Snr.ª D. Margarida d'Assumpção Marques”.
A Elegia, op. 45 é uma das composições de Vianna da Motta escrita num estilo que lembra os Nocturnes de John Field ou os de Frédéric Chopin, pelo lirismo exacerbado da melodia acompanhada e suas variações melódicas virtuosas. Apesar deste estilo estar também presente nas peças Pensée Poétique, Rêverie op. 36 e Lamentação, op. 51 n.º 3, não se pode considerá-lo como sendo representativo da obra de Vianna da Motta. O compositor abandona este estilo relativamente cedo para se interessar sobretudo sobre diferentes formas de trabalhar a decoração das melodias, técnica que está presente na Elegia, op. 45 como se pode comprovar pela análise das subsecções a1' e a2' do esquema estrutural em baixo.
1-5
|
6-13
|
14-22
|
22-32
|
33-40
|
41-48
|
49-56
|
57-61
|
61-65
|
66-69
|
70-77
|
78-86
|
86-95
|
96-103
|
A
|
B
|
A'
|
Intro.
i
|
a1
|
a2
|
b
|
c1
|
c1'
|
c2
|
c3
|
c4
|
ponte
(c4)
i
|
a1'
|
a2'
|
b'
|
Concl.
(a1)
|
dó?
|
LÁ
|
dó?
|
As tercinas de semicolcheias da mão esquerda que acompanham as variações melódicas da mão direita participam na decoração da melodia conferindo a esta passagem uma atmosfera musical contrastante com aquela que fora gerada pelo acompanhamento em semicolcheias nas subsecções a1 e a2.
Vários factos permitem supor que Vianna da Motta pretendia que a Introdução (c. 1-5) fosse tocada apenas com a mão esquerda: as pausas de mínima escritas na voz superior; o arpeggio do compasso 5; a ponte (c. 66-69) onde a escrita obriga a mão direita a realizar a voz superior. Três meses antes da composição desta peça, Vianna da Motta escrevia uma peça para a mão esquerda: Resignação, op. 39. Parece assim legítimo afirmar que, naquela época, o desenvolvimento da mão esquerda estava no centro das preocupações pianísticas e composicionais de Vianna da Motta.
João Costa Ferreira