1985
Esta peça surgiu como consequência de dois elementos estético-musicais que sempre me fascinaram: o som a vários títulos mágico da guitarra, que eu relaciono com a especialíssima perceptibilidade do contacto físico entre o instrumento e os dedos de quem o toca; e a brisa cálida de uma expressão musical que surgiu no Brasil, em grande parte alicerçada no génio de um artista admirável chamado António Carlos Jobim e que recebeu o nome de bossa nova.
A bossa nova é muitas vezes comentada e enaltecida, em termos musicais, pela originalidade dos seus encadeamentos harmónicos, mas eu considero que o seu aspecto mais importante e inovador, está numa técnica (porventura nem sequer consciencializada pelos seus autores…) de modulações inesperadas através dos desenhos melódicos, como seja o caso paradigmático da tripla escalada ascendente que permite a Jobim regressar em escassos segundos à tonalidade de base da “Garota de Ipanema”- da qual se afasta assinalavelmente!... -, sem qualquer tipo de recurso a princípios harmónicos reconhecíveis.
Com esta informação talvez se poupe algum trabalho de pesquisa aos “caçadores de influências”, ficando claramente assente que o modelo orientador desta minha pequena peça não é outro senão a bossa nova brasileira.