(1997/rev.1999)
para trompa solo
Hornpipe, para trompa solo, é a primeira de um ciclo de obras a solo para diversos instrumentos, e que inclui já Chirimia (2002/rev.2012), para oboé [ou saxofone-soprano] solo, e Alboque (2011) para clarinete solo, estando em projeto outras novas obras a acrescentar no futuro próximo, nomeadamente para marimba, saxofone-alto e fagote.
A principal característica deste ciclo é o elevado grau de virtuosismo exigido ao executante, quer pelo uso de técnicas especiais de entre as mais modernas para cada instrumento (como registos extremos, quartos-de-tom, flatterzunge, multifónicos, etc…), quer pela endurance necessária à sua execução. Mas tudo isto é aliado a uma escrita deliberadamente fantasiosa e, pelo menos aparentemente, muito livre, quase improvisativa, apesar da notação ser extremamente rigorosa. Assim, um dos intuitos destas obras é igualmente de apelar à imaginação do intérprete.
Sendo um verdadeiro work in progress, que pretendo desenvolver ao longo da minha carreira composicional, este ciclo traz imediatamente à ideia um seu famosíssimo antecessor, as Sequenzas de Luciano Berio, de que não renego a influência, principalmente pelo aspeto mais “lírico” da sua escrita. Na verdade também eu, nestes meus “solos”, tentei, entrementes todo o virtuosismo, incutir um certo lirismo à escrita, que porventura advém da minha naturalidade mediterrânica, e da luminosidade que é tão típica aos países do sul da Europa.
Especificamente, o termo hornpipe refere-se a, segundo o «Dicionário Oxford de Música» de Michael Kennedy: 1) uma espécie de instrumento celta obsoleto, consistindo num tubo de madeira com uma palheta simples, e uma campânula tipo trompa; 2) uma dança a solo, originalmente cultivada pelos marinheiros britânicos e eventualmente acompanhada pelo instrumento descrito acima, de que com grande probabilidade derivaram as hornpipes das suites de danças barrocas. Purcell e Händel são alguns dos compositores que compuseram hornpipes, sendo porventura o mais famoso exemplo a Alla Hornpipe da «Música Aquática» daquele último.
A minha abordagem de hornpipe, no caso presente, toma precisamente a perspectiva da dança a solo acompanhada por um instrumento, sendo que, aqui, instrumento e “dançarino” são uma e a mesma pessoa.
Hornpipe é dedicado a Abel Pereira, amigo de longa data e afamado virtuoso do instrumento, como reconhecimento ao seu excecional talento.
https://soundcloud.com/maestroluiscarvalho/hornpipe-for-solo-horn