Luís de Freitas Branco (Lisboa 12/10/1890 – Lisboa 27/11/1955) domina o século XX português com a estatura de um colosso, de importância comparável, no domínio da música, a um Fernando Pessoa. Poderosa e multiforme, a sua criação colocou-nos em sintonia com a Europa, em certos casos antecipando-se a ela; veio estabelecer um novo patamar de excelência, tornando-se pedra de toque do reportório português em praticamente todos os domínios. Caso excepcional de precocidade, compôs a primeira obra do seu catálogo aos 13 anos: a canção Aquela moça é premonitória pelo seu fino recorte modal (no modo dórico), que revela a influência de um dos seus principais mestres de composição, o padre Tomás Borba. Outro professor foi Augusto Machado, compositor de óperas de surpreendente qualidade, como Lauriane e La borghesina. Especialmente importantes, contudo, foram as aulas que teve com Désiré Pâque, compositor belga que foi um precursor da atonalidade e que veio para Lisboa em 1906 para ser professor de órgão do príncipe D. Luís. No início de 1910 Luís de Freitas Branco partiu para Berlim com o tio, para estudar composição com Humperdinck; mas o conservadorismo da Hochschule não estava de acordo com o seu temperamento e acabou por ser mais marcante o facto de assistir a Pélléas et Mélisande de Debussy, revelação que, segundo o próprio, mudou o curso da sua carreira. No mesmo ano, escreveu o poema sinfónico Paraísos artificiais, obra que marca a introdução do modernismo na música orquestral portuguesa, na linha impressionista, tendo causado escândalo na sua estreia em Lisboa, em 1913. No ano seguinte, Freitas Branco contactou pessoalmente com Debussy em Paris e estudou a estética impressionista com Gabriel Grovlez. Entre 1910 e 1911 Freitas Branco introduz a estética impressionista no reportório português para piano, com Mirages, uma tendência que culminaria nos Dez Prelúdios dedicados a Viana da Mota, escritos entre 1914 e 1918. Foi subdirector do Conservatório Nacional entre 1919 e 1924. Esse foi o período em que operou com Viana da Mota a histórica reforma daquela instituição (neutralizada pelo Estado Novo nos anos 30), que englobou medidas como a adopção exclusiva do solfejo entoado, a criação de cadeiras de cultura geral e a inclusão da classe de Ciências Musicais, dividida em Acústica, História da Música e Estética Musical, que o próprio Freitas Branco passou a leccionar e à qual dedicou obras teóricas, entre elas um Tratado de Harmonia. Incluem-se entre os seus discípulos António Fragoso, Armando José Fernandes, Fernando Lopes-Graça e especialmente Joly Braga Santos. Para lá de muitos livros que publicou, o seu trabalho como escritor e crítico musical inclui milhares de páginas que, a par do Diário (ainda inédito), espelham uma das inteligências mais cultas e brilhantes da sua época.