- obra encomendada pelo Cistermúsica 2011-XIXº Festival de Música de Alcobaça,
-estreada no concerto de abertura do Festival (4/Junho/2011) pela Orquestra de Câmara Portuguesa, sob direcção de Pedro Carneiro
O episódio dos «Amores de Pedro e Inês», referente ao romance amoroso entre o então príncipe herdeiro e futuro rei D. Pedro I de Portugal, e a dama galega D. Inês de Castro, é certamente um dos mais inquietantes momentos da nossa memória colectiva. Paixão, intriga, ódio, morte, vingança, são apenas alguns dos elementos daquilo que poderia muito bem ser uma autêntica novela romanesca, não fora a crueza de se tratar de factos verídicos. Aliás, tão rico de dramaturgia é este episódio histórico que vários foram os artistas que se debruçaram sobre ele, desde pintores a escritores e, naturalmente, também compositores, nomeadamente no campo operático.
Porém a perspectiva desta minha nova obra orquestral, NISE LACRIMOSA, não é nem pretende ser descritiva stricto sensu. Tal como um pintor actual não produziria, muito provavelmente, uma representação realista e datada daqueles acontecimentos, também a minha música (embora definitivamente inspirada na história de Pedro e Inês) toma aqui uma abordagem mais subjectiva, porventura mais ao estilo duma pintura surrealista: os diversos elementos estão lá, são perceptíveis, mas não estão necessariamente “alinhados” numa perspectiva tradicional.
Acima de tudo procuro transmitir com a minha música emoções mais que propriamente factos: as emoções que suponho tenham perpassado a alma dos dois amantes naquela época, ou as de D. Afonso IV, pai de D. Pedro, quando foi persuadido pelas intrigas cortesãs a ordenar o assassinato de Inês de Castro, bem como as dos assassinos que perpetraram tão ignóbil acto. Mas finalmente também as minhas próprias emoções ao reflectir sobre os eventos desta história trágica. Não escondo que escrevo música que, espero, agrade ao ouvinte, mas não necessariamente por ser “bela” num sentido vago e puramente superficial, mas antes por transmitir essas tais emoções que, em minha opinião, são o âmago da própria Arte em sentido lato.
Finalmente o título, NISE LACRIMOSA, tomei-o de empréstimo de uma obra do dramaturgo espanhol do séc. XVI Jerónimo Bermúdez. Sob o pseudónimo António Silva, Bermúdez escreveu na realidade duas obras sobre este assunto, Nise lastimosa (ou lacrimosa, consoante as fontes) e Nise laureada, ambas de 1577, e que são por sua vez baseadas na obra de 1558 A Castro (ou Tragédia de Inês de Castro) da autoria de António Ferreira (1528-1569), um dos maiores escritores e humanistas portugueses do Renascimento. Como já referi a minha obra musical não é descritiva, por isso não há qualquer paralelismo entre esta e a obra literária de Bermúdez, apenas me apropriei do seu título porque considero a conjugação das duas palavras, em sentido meramente fonético, muito interessante, ao mesmo tempo doce [Nise] e triste [Lacrimosa].
Luís Carvalho
(Abril/2011)
«Nise Lacrimosa, a obra encomendada a Luís Carvalho, dedicada a Inês de Castro, uma interpretação singular e muito contemporânea do mito universal do amor, mereceu também rasgados elogios da parte do público presente. »
(Mário Lopes, in jornal online de arte e cultura Tinta Fresca)
