Pedro António Avondano (1714-1782)
Nascido em Lisboa a 16 de Abril de 1714, Pedro António Avondano iniciou os estudos musicais com seu pai Pietro Giorgio Avondano, virtuoso violinista genovês, um dos muitos músicos italianos contratados na época a peso de ouro para o serviço do Rei D. João V, que pretendia desta forma instituir na corte portuguesa uma estética italiana.
Pietro Avondano residia em Lisboa desde os 19 anos e foi membro da Orquestra da Capela Real.
Tal como o pai, Pedro António Avondano ingressou em 1763 nesta orquestra, onde exerceu as funções de violinista.
Como compositor, Avondano foi um dos primeiros músicos portugueses a ganhar reputação entre os músicos da corte de D. José I.
José Mazza autor do “Dicionário Biográfico de Músicos Portugueses”, afirmou pouco tempo após a morte de Avondano que este “foi rabeca de câmara de Sua Majestade e excelente compositor. A sua música tinha grande harmonia e muita suavidade. Compôs Salmos, Missas, um Te Deum, muitas sonatas de instrumentos e sonatas de cravo. Também compôs a música da ópera burlesca “Il Mondo della Luna”, que se executou em Salvaterra na presença de Sereníssimo Sr. D. José I, e que teve excelente aceitação”.
Em 1742 dá-se a estreia em Macerata (Itália), da sua ópera séria “Berenice”.
Entre nós, a cantata “Le Difese d’Amore” foi cantada no Palácio da Ajuda em 1764, aquando do casamento do Marquês de Pombal.
Um ano depois no Carnaval de 1765 a ópera cómica “Il Mondo della Luna”, com libreto de Carlo Goldoni, foi estreada no Palácio Real de Salvaterra, tornando-se a primeira ópera de um compositor português a ser representada na corte.
O libreto desta ópera foi muito utilizado por outros compositores, como é o caso de Baldassare Galuppi em 1750, Giovanni Paisiello em 1774, Gennaro Astaritta em 1775, e Franz Joseph Haydn em 1777.
O drama desenrola-se em torno de Buonafede, pai de duas donzelas (Clarice e Flaminia) em idade casadoira, curioso de Astronomia que se vê enganado pelos pretendentes das filhas, que supostamente e por efeito de um elixir o enviam à Lua através de um telescópio.
A história conta com 7 personagens principais: Ecclitico, pretenso astrónomo; Ernesto, um fidalgo; Buonafede pai de Clarice e Flaminia; Lisetta, aia de Buonafede e Cecco, criado de Ecclitico.
Por esta época tanto a nobreza como as famílias de maior fortuna tinham-se acostumado a contratar os serviços dos mais célebres virtuosos do país de modo a poderem brindar os seus convidados com o melhor entretenimento musical possível.
Alguns destes músicos profissionais eram também os professores dos jovens destas famílias e ao mesmo tempo os autores de um vasto reportório musical especificamente destinado a este circulo crescente de salões privados.
Assim a música para pequenos conjuntos de câmara bem como para um instrumento solista e baixo continuo ou mesmo as sonatas a solo para tecla eram objecto de grande procura, tendo surgido uma grande quantidade de obras de câmara que circulavam abundantemente.
Avondano, violinista da Real Câmara gozava então de grande reputação no seio da colónia inglesa em Portugal.
Esta considerável fama tornou possível a edição em Londres, na década de 1770, de duas colecções dos seus “lisbon minuets” para 2 instrumentos agudos e baixo continuo.
Este reportório, quase sempre simples de executar adaptando-se facilmente ao nível técnico dos instrumentistas a que se destinava, primava pela sua graciosidade, pelas melodias fluentes e grande quantidade de ornamentação.
Por outro lado as sonatas para tecla de Avondano revelam um compositor muito expressivo por vezes melancólico, onde a graciosidade ornamental é uma constante.
As suas sonatas requerem na maior parte dos casos uma grande preparação técnica por parte do executante, e por vezes são de um virtuosismo impressionante com figurações muito rápidas, escalas, harpejos e saltos.
No início de 1760 Avondano era um dos músicos mais influentes da capital, tendo a seguir ao terramoto de 1755, desempenhado um papel importantíssimo na reorganização da Irmandade de Santa Cecília, associação profissional a que todos os músicos profissionais da época eram obrigados a pertencer por lei.
Avondano foi eleito secretário desta instituição aquando da sessão inaugural que teve lugar em sua casa a 27 de Junho de 1765.
Uma parte dos manuscritos de Avondano provavelmente desapareceu aquando do terramoto de 1755, no entanto alguns deles chegaram até nós estando uma parte considerável do seu espólio musical espalhado por várias bibliotecas europeias, devido ao facto de Avondano ter organizado, também em sua casa a partir de 1766, um clube denominado “Assembleia das Nações Estrangeiras”, onde as várias comunidades se encontravam, dançavam e jogavam às cartas duas vezes por semana, partilhando assim interesses.
Duas das obras que chegaram até nós são as sinfonias em Fá M e em Ré M para orquestra de cordas.
Escritas ao estilo da Abertura italiana com a sequência de andamentos rápido-lento-rápido, nelas podemos desfrutar de uma música cheia de frescura, vivacidade e brilhantismo.
Avondano para além de pertencer à muito bem paga Orquestra da Real Câmara e de actuar frequentemente como instrumentista em cerimónias tanto de música religiosa como de música profana, organizava também, especialmente junto da colónia inglesa em Portugal, saraus e bailes.
Estes rendimentos permitiram-lhe a 15 de Junho de 1767 comprar por 480 reis o Grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo.
No entanto durante o reinado de D. Maria I o seu prestígio parece ter decaído nos círculos musicais da corte, talvez devido à sua idade avançada.
Pedro António Avondano morreu aos 68 anos de idade em Lisboa.
por António Ferreira
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