Á mademoiselle Alice Hensler
Rêverie composée pour le Piano exécuté dans son premier concert, en Lisbonne a 20 Mars 1881
Composta por José Vianna da Motta aos doze anos de idade, a Pensée Poétique, Rêverie op. 36, em mi bemol menor, pertence ao conjunto de obras de infância escritas entre 1873 e 1883. Vianna da Motta atribuiu a esta peça o número de opus 37 antes de o corrigir pelo número de opus 36 (devido a um lapso, a correção não foi feita na primeira página da partitura manuscrita mas apenas na sua capa). O número de opus 37 da Polaca corrobora esta hipótese muito embora Vianna da Motta tenha atribuído inicialmente o número de opus 35 a essa peça (cf. correção feita na primeira página da partitura manuscrita). Tendo em conta que não parece ter sido feita qualquer emenda no manuscrito da Gaieté, Galop op. 35, é possível concluir que o número de opus definitivo da Polaca é o 37 e que, assim, o número de opus definitivo da Pensée Poétique, Rêverie é o 36.
Esta é talvez a primeira composição de Vianna da Motta escrita num estilo que lembra os Nocturnes de John Field ou os de Frédéric Chopin, pelo lirismo exacerbado da melodia acompanhada e suas variações melódicas virtuosas. Apesar deste estilo estar também presente nas peças Elegia, op. 45 e Lamentação, op. 51 n.º 3, não se pode considerá-lo como sendo representativo da obra de Vianna da Motta. O compositor abandona este estilo relativamente cedo para se interessar sobretudo sobre diferentes formas de trabalhar a decoração das melodias.
A complexidade do percurso harmónico da Pensée Poétique, Rêverie op. 36 (que se pode observar pela análise do esquema estrutural em baixo) contrasta com as outras obras de infância de Vianna da Motta, sendo que na maior delas parte apenas se explora os tons próximos da tonalidade principal. Assim, o estilo da escrita pianística e o percurso harmónico da Pensée Poétique, Rêverie op. 36 fazem sobressair esta peça entre as peças compostas na mesma época.
1-11
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12-24
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25-30
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31-38
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39-42
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43-55
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56-60
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61-64
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Intro.
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A
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B
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A'
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Concl.
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a1
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a2
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b1
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b2
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a1'
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a2'
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(a1)
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mi?
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MI-MI?
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(SOL?)_SI?
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mi?
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MI-MI?
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mi?
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No que toca o trabalho sobre o material composicional, o acompanhamento da mão esquerda da secção A' é talvez a característica mais relevante da obra. Inspirado nas quatro primeiras notas do tema principal anunciado no compasso 13, este acompanhamento adquire um carácter quase melódico que o coloca na posição de dialogante com o tema principal quando este reaparece.
No compasso 12, Vianna da Motta escreve “a tempo” e “(? = 84)”. Contudo, segundo as indicações metronómicas dos compassos 1 e 10, o valor da semínima é 72. É possível que as indicações metronómicas tenham sido acrescentadas numa fase posterior e que Vianna da Motta se tenha esquecido de substituir a indicação a tempo do compasso 12 por uma indicação como un poco più mosso.
João Costa Ferreira