1957
Ao Quarteto Lisboa
O Quarteto com piano foi dedicado ao Quarteto de Lisboa, que o estreou em Maio de 1957, em Würzburg (Alemanha), na presença do compositor.
Obra de dimensões relativamente modestas (275 compassos, c. 15’ duração), nela ressalta a forma num único andamento (com várias oscilações de ‘tempo’ internas), sendo assim um exemplo de ‘condensação’ da forma, aqui realizada quer por recorrência cíclica, quer por renovação da forma-sonata, tentando assim uma síntese pessoal do ‘franckismo’ (muito praticado pelo seu mestre, Luís de Freitas Branco) e dos exemplos do Mahler tardio e de Schönberg *1.
O Quarteto abre com o 1.º grupo temático (em ré), impetuoso e heróico, cuja rítmica remete para a ‘Ouverture’ francesa do Barroco. A este se oporá um 2.º grupo temático (no modo lídio), primeiramente apresentado no piano (‘Meno mosso’), de carácter sereno e lírico *2. A elaboração do material far-se-á por variação, reminiscência, recorrência textual e por desenvolvimentos intercalares, dentro dum pensamento harmónico modal. A 1.ª recorrência do Grupo 1 traz consigo uma ideia secundária, o mesmo sucedendo pouco depois com o Grupo 2. Já a 2.ª recorrência do Grupo 1 (com a tal ideia secundária agregada) sinaliza um Desenvolvimento terminal ao qual Joly Braga Santos confere uma dimensão eminentemente sinfónica que se prolonga pela Coda *3.
É uma obra que denota um constante cuidado do equilíbrio: a) na forma como trata os instrumentos: seja a escrita concertante, homofónica, de melodia acompanhada ou em uníssonos, ela é sempre enquadrada em texturas claras, fluidas, bem definidas e delimitadas; b) no modo como se desenrola retoricamente, articulando-se numa sucessão de períodos tensivos e distensivos que dão uma aparência ondulante ao balanço geral da obra.
Bernardo Mariano