O pianista português José Vianna da Motta dedicou-se à composição durante cerca de trinta e cinco anos. Entre 1885 e 1890, período durante o qual residiu na Alemanha, interessou-se em particular pelo repertório de música de câmara, de coro e de orquestra, tendo composto, entre outras obras, a Abertura Dona Inês de Castro para orquestra, o Concerto em Lá maior para piano e orquestra, vários Lieder (Drei Lieder, op. 3; Fünf Lieder, op. 5; Vier Gedichte, op. 8), obras para piano a quatro mãos (Erinnerungen, op. 7; Ein Dorffest, op. 11), o Quarteto em Mi bemol maior e o Trio em Si menor.
Segundo as indicações no seu manuscrito, Vianna da Motta começou a compor o Trio em Si menor a 4 de dezembro de 1888 e terminou-o a 16 de julho de 1889. Fazendo abstração do facto de que na entrada do dia 15 de julho de 1889 do seu Diário n.º 8 Vianna da Motta afirma ter terminado a composição do seu Trio em Si menor, é curioso notar que as páginas do diário correspondentes às datas indicadas no manuscrito do trio foram rasgadas parcialmente e que nenhuma referência à obra tenha ficado aí expressa. Poderá tratar-se apenas de uma coincidência uma vez que outras páginas deste diário foram cortadas, mas não se deverá descartar a hipótese de Vianna da Motta ter ele próprio rasgado essas páginas para ocultar informações relacionadas com a composição do seu trio. Com efeito, uma carta datada de 7 de setembro de 1930 dirigida a Afonso Lopes Vieira prova que o compositor pensava na imagem que a posteridade guardaria dele. Nessa carta, Vianna da Motta pede ao poeta que rasgue uma carta na qual ele exprime o seu desagrado em ler certas passagens da epopeia Os Lusíadas de Luís de Camões.
Este parece ser o único trio que Vianna da Motta compôs para piano, violino e violoncelo, embora no seu Diário n.º 6 apareçam, entre os dias 24 e 27 de setembro de 1887, referências à composição de um trio. A julgar pelas palavras de Vianna da Motta, tratou-se de uma tentativa infrutífera que o levou a optar por compor antes um quarteto de cordas, aquele que veio a ser o seu Quarteto em Mi bemol maior. No entanto, o facto da composição do seu quarteto ter terminado a 22 de novembro de 1888 e Vianna da Motta ter começado a composição do seu Trio em Si menor menos de duas semanas depois demonstra quão impaciente estava por voltar a experimentar o género do trio. É por isso possível que os esboços da primeira tentativa tenham sido preservados e reutilizados no seu trio, ou pelo menos que as suas ideias musicais tenham sido sujeitas a um processo de reflexão e amadurecimento durante o longo período em que Vianna da Motta se dedicou à composição do seu Quarteto em Mi bemol maior. Pode-se, contudo, afirmar com alguma certeza que a composição do quarteto foi fundamental para o desenvolvimento de uma maturidade musical necessária à composição do trio.
A revisão feita pelo Bruno Belthoise para esta publicação do Trio em Si menor foi realizada a partir de uma cópia do compositor terminada a 8 de agosto de 1889, aquela que parece ser a única fonte manuscrita existente desta obra. A entrada do Diário n.º 8 correspondente a esta data revela que Vianna da Motta compôs o seu trio sem nunca o ter ouvido tocado com violino e violoncelo, e que ele ansiava por tal ocasião. Este desejo parece ter sido concretizado pela primeira vez a 13 de outubro do mesmo ano, quando Vianna da Motta tocou a sua obra com Carl Hali? e Arthur Rösel (supostamente) e uma segunda vez no mês seguinte com Adalbert Gülzow e Gotthold Böttcher (supostamente). Foi provavelmente na sequência destas ocasiões que Vianna da Motta corrigiu a sua obra, rasurando vários compassos do terceiro andamento. Uma tira de papel (onde foi escrito o compasso 57 e a sua anacruse) colada sobre parte destas passagens rasuradas não nos permite reconstruir integralmente o passado desta obra pelo que decidiu-se não apresentar essas passagens nesta edição.
Embora o Trio em Si menor não contenha nenhum elemento nacionalista, é no período em que Vianna da Motta compõe esta obra que ele se exprime pela primeira vez nos seus diários a propósito de “música nacionalista” (cf. entradas de 2 e 7 de fevereiro de 1889). Estas considerações viriam nos anos seguintes, após o Ultimato britânico de 1890, a refletir-se na sua criação artística, nomeadamente nas Cinco Rapsódias Portuguesas para piano inspiradas em melodias populares portuguesas. Assim, o Trio em Si menor pode ser considerado como um dos pontos culminantes da fase criativa iniciada com a composição de peças para piano solo – como a Barcarola, op. 1 ou a Fantasiestück, op. 2 – e fortemente marcada pela influência da cultura musical germânica.
João Costa Ferreira
Le pianiste portugais José Vianna da Motta s'est consacré à la composition pendant environ trente-cinq ans. Entre 1885 et 1890, période lors de laquelle il a résidé en Allemagne, il s'est notamment intéressé aux répertoires de musique de chambre, de chœur et d'orchestre, composant, entre autres œuvres, la Abertura Dona Inês de Castro pour orchestre, le Concerto em Lá maior para piano e orquestra, plusieurs Lieder (Drei Lieder, op. 3 ; Fünf Lieder, op. 5 ; Vier Gedichte, op. 8), des œuvres pour piano à quatre mains (Erinnerungen, op. 7 ; Ein Dorffest, op. 11), le Quarteto em Mi bemol maior et le Trio em Si menor (Trio en Si mineur).
D'après les indications que l'on trouve dans son manuscrit, Vianna da Motta a commencé la composition du Trio em Si menor le 4 décembre 1888 et l'a terminée le 16 juin 1889. Si l'on fait abstraction du fait que, dans son Journal intime no 8 en date du 15 juin 1889, Vianna da Motta indique avoir terminé la composition de son Trio em Si menor, il est curieux de noter que les pages du journal intime correspondant aux dates indiquées dans le manuscrit du trio aient été partiellement déchirées et qu'aucune référence à l’œuvre n'y ait été conservée. Il pourrait s'agir d'une simple coïncidence dans la mesure où d'autres pages de ce journal intime avaient été déchirées mais on ne peut écarter l'hypothèse que Vianna da Motta ait lui-même arraché ces pages pour dissimuler des informations liées à la composition du trio. En effet, une lettre du 7 septembre 1930 adressée à Afonso Lopes Vieira prouve que le compositeur pensait à l'image que conserverait de lui la postérité. Dans cette dernière, Vianna da Motta demande au poète de déchirer une lettre dans laquelle il exprimait son déplaisir à lire certains passages de l’épopée Os Lusíadas de Luís de Camões.
Ce trio semble être le seul que Vianna da Motta ait composé pour piano, violon et violoncelle, bien que dans son Journal intime no 6 apparaisse, entre le 24 et 27 septembre 1887, des allusions à la composition d'un trio. À en juger par les mots qu'emploie Vianna da Motta, il se serait agi d'une tentative infructueuse qui l'aurait plutôt fait opter pour un quatuor à cordes, devenu son Quarteto em Mi bemol maior. Cependant, le fait que la composition de son quatuor se soit achevée le 22 novembre 1888 et que Vianna da Motta ait commencé la composition de son Trio em Si menor moins de deux semaines plus tard montre combien il était impatient d'essayer à nouveau le genre du trio. Il est donc probable que les esquisses de la première tentative aient été préservées et réutilisées dans le trio ou tout au moins que ses idées musicales aient été soumises à un processus de réflexion et de maturation pendant la longue période lors de laquelle Vianna da Motta s'est consacré à la composition de son Quarteto em Mi bemol maior. On peut cependant affirmer avec une relative certitude que la composition du quatuor a été fondamentale pour le développement de la maturité musicale nécessaire à la composition du trio.
La révision effectuée par Bruno Belthoise pour cette publication du Trio em Si menor a été réalisée à partir d'une copie du compositeur terminée le 8 août 1889, qui semble être la seule source manuscrite à avoir subsisté. L'entrée du Journal intime no 8 correspondant à cette date révèle que Vianna da Motta avait composé ce trio sans jamais l'avoir entendu avec violon et violoncelle et qu'il attendait impatiemment cette occasion. Ce désir semble s'être réalisé pour la première fois le 13 octobre de la même année, lorsqu'il a interprété son trio avec Carl Hali? et (peut-être) Arthur Rösel et une deuxième fois le mois suivant avec Adalbert Gülzow et (peut-être) Gotthold Böttcher. C'est probablement suite à ces occasions que Vianna da Motta a corrigé son œuvre, biffant plusieurs mesures du troisième mouvement. Le fait qu'un morceau de papier (sur lequel est écrite la mesure 57 et son anacrouse) soit collé sur une partie des passages biffés nous a pas permis de reconstituer intégralement le passé de cette œuvre, raison pour laquelle nous avons décidé de ne pas présenter ces passages dans cette édition.
Bien que le Trio em Si menor n'en comporte aucune trace, il a été composé au moment où Vianna da Motta s'exprime pour la première fois dans ses journaux intimes sur la “musique nationaliste” (cf. 2 et 7 février 1889). Ces considérations viendront lors des années suivantes, après l'Ultimatum britannique de 1890, se refléter dans sa création artistique, notamment dans les Cinco Rapsódias Portuguesas pour piano inspirées de thèmes populaires portugais. Ainsi, le Trio em Si menor peut être considéré comme l'un des points culminants de la phase créative initiée avec la composition de pièces pour piano solo – comme la Barcarola, op. 1 ou la Fantasiestück, op. 2 – et fortement marquée par l'influence de la culture musicale germanique.