Escrevi a Sonata para Trompa e Piano em intenção do José Bernardo Silva, que me havia perguntado por peças minhas para o instrumento. Dado que poucas coisas tinham escrito até então, e a maior parte estavam retiradas do catálogo para revisão, ou eram peças antigas que pura e simplesmente já não me satisfaziam, resolvi compor uma obra nova e de maiores dimensões.
Cada andamento tem um carácter completamente diferente: hierático e contrapontístico o primeiro, lírico e nostálgico o segundo, ritmicamente complexo e com um travo de música popular latino-americana (com um pouco de “jazz” à mistura) o terceiro. Embora difícil para os dois instrumentos, pretendi escrever uma obra idiomática para a trompa, sem fazer apelo aos múltiplos efeitos de vanguarda que já usei noutras obras, e nem sequer a efeitos mais comuns, como o glissando ou a surdina, embora aqui e ali use ainda assim alguns efeitos tradicionais, como o “bouché” e o “cuivré”, e ainda, num único momento, o som característico dos harmónicos naturais “desafinados”, como o 7º e o 11º.
Sérgio Azevedo