Filho de um oboísta italiano (Francisco Saverio Buontempo) e de uma portuguesa (Mariana da Silva) Bomtempo realizou os seus primeiros estudos musicais com seu pai, oboísta da orquestra da Real Câmara (de D. José I), continuando-os mais tarde no Seminário Patriarcal de Lisboa onde se presume ter tido lições de João de Sousa Carvalho.
Aos 14 anos (1789) tornou-se cantor na capela real da Bemposta e aos 20 anos (1795), por falecimento de seu pai, viria a substituí-lo no cargo de oboísta da Real Câmara.
Em 1801, com 26 anos, parte para Paris para aprofundar os seus estudos musicais (nomeadamente no estudo do piano), tendo-se tornado, aí, amigo de Clementi, Cramer, Field e Dussek, entre outros. Três anos mais tarde (Fevereiro de 1804), surge o anúncio na imprensa de um seu concerto na Sala Olímpica – ao tempo uma das mais elegantes da época e onde se davam os concertos de maior relevância -, executando um concerto de piano de sua autoria, entre outras peças, sob a direcção de Kreutzer. O espectáculo foi objecto das críticas mais favoráveis e a esse se seguiram vários outros no espaço de poucas semanas.
Iniciou-se, então, um período de grande notoriedade para Bomtempo, quer como pianista, quer como compositor e, mais tarde, ainda, como professor. Surgem, também, as primeiras publicações de composições suas (Grande Sonate pour piano, em Fá M, op.1 e os primeiros dois concertos para piano, op. 2 e 3, respectivamente em Mi b M e fá m), e afirma-se a sua popularidade em Paris, onde brilha nos salões como solista.
As Invasões Napoleónicas à Península Ibérica irão, todavia, comprometer a sua estada em França, razão pela qual abandona Paris em 1810, instalando-se, em Londres, onde irá manter a sua notoriedade, quer como compositor, quer como solista.
O período de 1810 a 1814, período em que permanece ininterruptamente em Londres foi, de facto, fértil em produções, às quais pertencem, por exemplo, as 3 Grandes Sonatas, op. 9, o Hino Lusitano, op.10, a I Grande Sinfonia, op. 11, assim como mais sonatas e concertos. Em 1813 é publicado um catálogo da sua obra editada em Londres no "Investigador portuguez em Inglaterra" (Maio, nº 6), o qual incluía uma recolha de impressões muito abonatórias acerca de J. D. Bomtempo, tanto como pianista, quer como compositor. E, no mesmo ano, Bomtempo figura como um dos primeiros 25 membros associados da recém-criada Sociedade Filarmónica de Londres.
Com o afastamento do perigo napoleónico e a reorganização da Europa saída do Congresso de Viena de 1815, a mobilidade de Bomtempo é, a partir de então, muito maior, passando a circular sem constrangimento entre Londres, Paris e Lisboa. Paralelamente desenvolve a sua actividade pedagógica publicando em Londres uma obra didáctica, – "Elementos de Música e Methodo de tocar pianoforte, op.19 "- a qual, segundo afirma na dedicatória, era "offerecida à Nação Portuguesa ". Toma assento de novo em Paris em 1818, mantendo, embora, os contactos com a capital britânica onde continuava a ter sucesso, mediante a execução das suas obras (nomeadamente o Requiem, op.23, concluído nesse mesmo ano).
Em 1820 e, na sequência do movimento liberal em Portugal, Bomtempo regressa a Lisboa, desde logo se mostrando simpatizante da causa e compondo diversas obras evocativas desses novos momentos da nação portuguesa. É o caso, por exemplo, da Missa "composta em obséquio da Regeneração Portugueza" e que será executada, juntamente com o Te Deum em Fá M na festa do juramento das Bases da Constituição, na Igreja de S. Domingos (29 Março de 1821). No mesmo ano dirige o Requiem, em primeira audição lisboeta, na mesma igreja, dedicado à memória dos supliciados de 1817 e do General Gomes Freire de Andrade. Compõe, ainda uma Serenata para sopros e piano em Fá M a qual inclui várias variações sobre o Hino Constitucional de D. Pedro, conhecido mais tarde como Hino da Carta.
Bomtempo torna-se em breve, o compositor solicitado para a celebração de diversos actos oficiais ou litúrgicos da Corte. Ao mesmo tempo irá tentar implantar em Portugal o gosto pela música instrumental que se estava a desenvolver no resto da Europa através da criação de uma Sociedade Filarmónica de concertos (1822), segundo o modelo da sua congénere londrina, em cujos concertos pretendia dar a conhecer não apenas a sua música, mas, igualmente a dos clássicos vienenses. No mesmo ano de 1822 é encarregado pelas Cortes de elaborar um projecto para um"estabelecimento de música vocal e instrumental ", projecto que Bomtempo apresentará no final desse ano como uma reorganização do Seminário de Música da Patriarcal, e que passa à comissão responsável.
Devido às suas simpatias políticas, as actividades da sua Sociedade Philarmonica, que congregava um abundante número de amadores de música de simpatia liberal, viriam a ser perturbadas e restringidas esporadicamente por diversas vezes, nos períodos políticos seguintes (Vilafrancada, Abrilada) e, particularmente, após a posteriorretoma do Absolutismo por D. Miguel.
Em 1827 Bomtempo participou nas célebres "archotadas" (amotinações populares em 1827) tendo escapado de ser preso por se ter refugiado no Consulado da Rússia onde permaneceu até à vitória dos liberais em 1834.
Com a vitória liberal de 1834, Bomtempo é nomeado Professor de D. Maria II e agraciado com a Comenda da Ordem de Cristo.
Em Junho de 1834 retoma o projecto de criação de um estabelecimento de ensino da música (que ficara adiado em 1822), apresentando o plano para esse estabelecimento, o qual levou o despacho: "Guarde-se para se tomar em consideração em tempo opportuno". Finalmente, por decreto de 5 de Maio de 1835 é criado o Conservatório de Música, que ficou anexo à Casa Pia e do qual Bomtempo foi nomeado Director. Mais tarde, no âmbito do projecto de Almeida Garrett, esse mesmo Conservatório seria transformado em Escola de Música e anexado ao Conservatório Geral de Arte Dramática que se instalaria em 1837 no Convento dos Caetanos, escola de que permanece director.
Seguiu-se um período de intensa actividade pedagógica, preocupado como estava em fazer funcionar convenientemente a instituição que dirigia, preocupações acrescidas pelas grandes vicissitudes que desde sempre atormentaram essa nova escola, e pela crescente incompatibilidade com Garrett, quer em termos pedagógicos, quer administrativos.
Não cessa, todavia, a sua actividade de compositor, escrevendo no seu último ano de vida (1842) um Tantum Ergo, Kyrie Gloria e Credo, dedicado a D. Fernando II, mas cuja partitura (como tantas outras), se perdeu.
Maria José Borges